Depois de muito pensar e da insistência do F. ter deixado o meu telemóvel sem bateria, acabei por atendê-lo.
Era a mesma conversa de me querer ver e de estar arrependido de me ter deixado na altura em que mais precisei dele.
No dia 25 de Maio de 2005 descobri que estava grávida! Foi a melhor sensação do mundo! O F. ficou tão feliz que eu acho que nunca o tinha visto assim.
Durante quatro meses, tudo correu bem e ver a barriguinha crescer (pouco, mas qualquer coisinha era motivo para festejar!) era o nosso passatempo preferido.
No entanto, no dia 30 de Setembro de 2005 um acidente de carro (do qual não tivémos culpa) provovou-me um aborto e perdemos o nosso filho. Acho que nunca me senti tão vazia na minha vida...
Quando acordei, no dia seguinte, na cama do hospital, sabia que alguma coisa não estava bem. Tinha muitas dores na barriga e a enfermeira (a mais doce que já conheci) informou-me que tinha perdido o meu bebé.
O F. estava bem, "só uns arranhões", disse a enfermeira. Foi chamá-lo.
Abraçámo-nos e chorámos durante um período de tempo que me pareceu bem mais que uma hora...
Como não me lembrava, ele contou-me que o outro carro (de um bêbedo) tinha embatido directamente na porta do meu lado. Reparei nas mãos e nos braços dele, cheias de cortes. Só então reparei nas minhas... Iguais...
Os dias seguintes foram os mais difíceis que vivi até hoje. Os olhos cheios de lágrimas dos meus pais, dos pais do F., da irmã do F., da minha avó... Os telefonemas, sempre tão difíceis de atender...
Até que o F. decide que não me merece. Que a culpa era dele, que não devia ter permitido que aquele acidente acontecesse, que o homem podia estar bêbedo, mas ele também podia ter ido mais devagar, que não aguentava a pressão e que eu tinha de encontrar um homem que merecesse a luz que eu sei trazer à vida das pessoas.
E nem as minhas palavras de negação foram suficientes para que ficasse.
Saiu, a chorar, depois de ter chamado a minha mãe para ficar comigo.
"Deixa-o ir, filha, ele precisa de pensar. Ele volta..."
Mas não voltou. Deixou-me sem as duas coisas que mais valor tinham para mim. Sozinha. Quando 1 semana antes eu pensava que não me faltava absolutamente mais nada para ser a pessoa mais feliz do mundo...
E agora, 1 psicólogo e 4 meses e meio depois, precisa de me ver porque me ama e quer apagar o que se passou...
Apetece-me dizer-lhe que venha, que nunca me esqueci do cheiro dele, que todas as noites o procuro, na cama, que tenho saudades de fazer batido de manga, que sinto a falta de encontrar nos bolsos pequenos post-it a dizer "Amo-te, Martita", que até já nem me importo se ele continuar a trocar as nossas toalhas de banho...
Mas ainda é tão difícil... Parece-me tudo tão injusto...
E as palavras dele, que não me saem da cabeça:
"Fazes anos dia 20... Dissémos que ia ser o dia do nosso bebé, lembras-te?"