Queridos Amigos,
Não sei como vos hei-de contar isto, nem sei se tenho o direito de vos contar, mas só hoje tive coragem de vir aqui e sentar-me a escrever para partilhar convosco o horror que foram os meus últimos dias.
Tremem-me as mãos a escrever isto e sinto que, na realidade, não me encontro aqui... Não sei bem onde estou nem quem sou, neste momento.
O Francisco... Morreu.
Não há outra forma de dizê-lo, nem sequer forma mais fácil, até porque eu mesma ainda não acredito que tal tenha acontecido.
No dia 18, durante a madrugada, voltámos de Inglaterra depois de termos ido passar uns dias com a minha avó. É algo que faço todos os anos, depois de ela vir, vamos nós com ela.
Estavam a ser dias fantásticos e eu estava convencida que as minhas baterias estavam a ser carregadas da melhor forma possível: com muita calma e amor de todas as pessoas que, naqueles dias, me rodearam.
Chegámos a Lisboa às 06h45, fomos a casa deixar as malas e, como eu tinha de estar na escola às 8 e o Francisco, estando ainda de férias, iria por-se a caminho da Guarda para visitar os pais, despedimo-nos.
O Francisco dormiu até às 11h, mandou-me uma sms às 11h22 a dizer que ia saír nesse momento, ligou-me às 12h16 a dizer que estava a caminho e que quando chegasse me avisava e... Nada mais.
A chamada seguinte que recebi, às 15h12 (já eu estava preocupada havia mais de uma hora) trazia consigo a notícia que me deixou em estado de choque. Dos últimos três dias, não tenho qualquer recordação nem sequer noção do tempo que passou. Sei que foram três dias porque o calendário me diz que hoje é dia 21.
Não vos consigo descrever o vazio que tenho dentro de mim, nem sequer a quantidade de coisas que eu ainda queria ter tido tempo de lhe dizer.
Não sei que lei divina é capaz de me tirar o MEU Francisco da forma vil e cruel que um acidente de automóvel é capaz.
Não sei porque é que a vida me tira, a pouco e pouco, tudo aquilo que eu amo e quero bem...
Desculpem o desabafo e desculpem também se não aparecer por aqui durante uns tempos. Neste momento, não durmo há mais de 50h e sinto, dentro de mim que, o mundo como eu o conhecia desapareceu... Como se caminha num mundo sem chão?
PS - Quando cheguei à escola, no dia 18 de manhã, contava-me a Maria que tinha morrido o actor Francisco Adam, num acidente de carro. Eu não o conhecia e ela mostrou-me o caso numa revista. Fiquei impressionada e disse-lhe: "Ainda por cima chamava-se Francisco..."
PS II - Um beijinho a todos por todo o vosso carinho constante e desculpem mais uma vez partilhar isto convosco.
Amo-te muito, meu amor.
Não sei que mais te possa dizer.
Francisco Carvalho
12.12.1973 - 18.04.2006